Como você preencheria as letras faltantes?
Se você não tiver com a mente poluída ou pensando na paz mundial, provavelmente diria “M” (Roma), “D” (Roda) e “S” (Rosa).
As imagens funcionam como um “priming”, direcionando a escolha das letras em uma dada direção.
Priming pode ser considerado como o processo pelo qual a exposição a um estímulo pode influenciar a reposta ou reação a um estímulo subsequente.
O melhor livro sobre o tema é O cérebro intuitivo: os processos inconscientes que nos levam a fazer o que fazemos, de John Bargh.
O livro Pré-suasão: a influência começa antes mesmo da primeira palavra, do papa da persuasão Robert Cialdini, também vale muito a pena.
Para aguçar a curiosidade, aqui alguns estudos interessantes.
O Segredo do Talento, de Daniel Coyle
Cercar-se de primings motivacionais e intelectuais é um hábito comum de vários top performers. A Dica 1 do excelente livro O Segredo do Talento, de Daniel Coyle, é precisamente esta: “olhe todos os dias para as suas imagens motivadoras”.
Para Coyle, essas imagens podem funcionar como fontes de energia para o cérebro ou como modelos de inspiração.
Professores v. Hooligans
Na Holanda, Dijksterhuis e Knippenberg convidaram 60 voluntários para participarem de um jogo de perguntas e respostas chamado Trivia Pursuit. Antes, porém, eles teriam que escrever uma redação sobre dois temas possíveis. Um grupo foi solicitado a escrever sobre o estilo de vida de um professor. O outro grupo, por sua vez, teria que escrever sobre o estilo de vida de um torcedor de futebol briguento (hooligan).
Após escreverem o texto, os participantes responderam várias perguntas do Trivia Pursuit que apareciam em uma tela de computador. Com exceção das perguntas sobre esporte, o grupo que foi solicitado a escrever sobre a vida de um professor acertou mais questões do que o grupo que escreveu sobre a vida de um hooligan.
A hipótese explicativa é que os participantes que escreveram sobre a vida de um professor ativaram representações mentais relacionadas à inteligência, e isso pode ter influenciado o resultado do jogo.
Fonte: O cérebro intuitivo: os processos inconscientes que nos levam a fazer o que fazemos, de John Bargh.
O Pensador, de Rodin
Pesquisadores canadenses demonstraram que uma simples fotografia de uma estátua com O pensador, de Rodin, pode produzir um aumento de performance em tarefas que exijam esforço cognitivo, já que a referida imagem gera uma associação inconsciente de ideias relacionadas à inteligência, à reflexão e ao pensamento racional. A dica é colocar imagens motivadoras como pano de fundo do computador ou do smartphone.
Fonte: SHANTZ, Amanda; LATHAM, Gary. The effect of primed goals on employee performance: Implications for human resource management. Human Resource Management, v. 50, n. 2, p. 289-299, 2011
Nuvens Fofinhas v. Moedas
Pesquisadores utilizaram um website de uma loja on-line de sofás para verificarem se as imagens utilizadas no pano de fundo poderiam influenciar o comportamento dos consumidores. Para isso, utilizaram dois panos de fundos diferentes: o primeiro continha imagens de nuvens fofinhas; o segundo, de moedas. Esses dois panos de fundo se alternavam ao longo do dia, de modo que alguns usuários acessavam o site com o pano de fundo das nuvens e outros com o de moedas.
Depois de observar o padrão de compras por alguns dias, os pesquisadores perceberam que os usuários que acessavam a página com as nuvens como pano de fundo tendiam a buscar sofás mais confortáveis, ou seja, o fator conforto se tornou um dos principais critérios da escolha. Por outro lado, os usuários que acessavam a página com as moedas como pano de fundo tendiam a buscar sofás mais econômicos, fazendo com que o fator preço se tornasse um dos principais critérios de escolha. A conclusão é muito clara: mesmo detalhes banais como imagens de pano de fundo podem influenciar o comportamento humano.
Fonte: Pré-suasão, de Robert Cialdini
Priming no contexto jurídico
O livro Testemunhando a Injustiça (agora na Amazon!) apresenta muitos exemplos de priming no contexto jurídico.
Por exemplo, em um experimentos, os participantes receberam estímulos contendo fotografias de pessoas brancas e negras para, em seguida, tentarem identificar, espontaneamente, que objetos eram representados por algumas imagens degradadas que surgiam na tela. Demonstrou-se que os rostos negros influenciam a capacidade dos participantes de detectarem objetos relacionados ao crime com muito mais intensidade do que rostos brancos. Assim, depois de olharem para alguns rostos de pessoas negras, mesmo por uma fração de segundos, os participantes conseguiam identificar um revólver, em uma imagem desfocada, mais rapidamente do que quando olhavam para rostos de pessoas brancas.
Para saber mais:
Testemunhando a Injustiça - de George Marmelstein
O cérebro intuitivo: os processos inconscientes que nos levam a fazer o que fazemos, de John Bargh
Pré-suasão: a influência começa antes mesmo da primeira palavra, de Robert Cialdini
Pronto! Era o que tínhamos pra hoje!
Parabéns pelo ótimo conteúdo desta e das demais edições do Brain Hacks. Sempre as leio e encaminho a minha filha.